ARTIGOS

O SAMBA QUEBRADO

Zilda Montenegro

O que caracteriza o samba de salão? Poderíamos responder que se trata da execução de sequências de passos por um casal onde o cavalheiro induz a dama a responder à sua condução, ao som da música também denominada samba. Os mesmos passos são executados por todos os casais, e o que diferencia os dançarinos entre si é a evolução do passo. Quanto mais evoluído, maior a dificuldade na execução e essa dificuldade é determinada pelas variações que cada dançarino ou dançarina executa dentro do passo, sem desvirtuá-lo. Outra coisa que pode ainda diferenciar um dançarino ou uma dançarina dos demais é a capacidade de desenvolver um estilo próprio de dançar. Esse estilo pessoal seria o “tom” que o dançarino e a dançarina impõem à sua dança, pequenos detalhes que fazem a diferença diante das limitações impostas pelo repertório de passos existentes no samba, dos quais citamos aqui os mais utilizados: gancho, cruzado, puladinho, giro duplo, chapéu, giro da dama, Romário, facão, elástico, ioiô, pescaria, Ronaldinho, letra, assalto, puladinho .
Há que se levar em consideração que além dos estilos pessoais, determinados dançarinos acabam por estilizar sua dança, adequando-a aos estilos musicais dos sambas. Assim surgiu o samba funkeado ou “rasgado”, desenvolvido por Jimmy de Oliveira e o Samba Quebrado, desenvolvido por Eduardo Moura. Este último, em suas preleções nas aulas, cursos e workshops, afirma (e também demonstra) que há cinco professores e dançarinos de samba, com estilos pessoais que se tornaram escolas ou tendências, são eles: Carlinhos de Jesus, Jimmy de Oliveira, Jaime Arouxa, Carlos Bolacha e ele próprio, Eduardo Moura.
O interessante é que ao vermos um casal desconhecido dançar, somos capazes de identificar a que escola pertence a dança do casal, se conhecemos o trabalho dos artistas citados acima. O que é necessário ficar claro aqui é que há espaço para todos esses estilos e é isso que enriquece nossa cultura.
Foi a partir do ano 2000, que Eduardo Moura começou a se inquietar com um novo tipo de música que surgia, porém não conseguia adequar sua dança àquela música. Esse incômodo com a inadequação dos passos que conhecia ao estilo musical que estava surgindo, fez com que o jovem Eduardo iniciasse um processo de pesquisa, até conhecer um movimento, chamado base quebrada, em 2005. A base quebrada foi, portanto, o passo que trouxe a Eduardo Moura o modelo para o desenvolvimento do seu estilo. Chamou samba quebrado ao seu estilo, pois ele interrompe, quebra, a sequencia esperada do passo, invertendo a direção do movimento, ou realizando um desenho diferente do esperado. O samba quebrado permite aquilo que nos outros estilos seria chamado de erro.
No entanto, Eduardo Moura faz questão de ressaltar que os dançarinos devem estar atentos para não cometerem a gafe de dançar o samba quebrado ao som de sambas mais tradicionais, como o samba canção, bossa nova, pagodes, pois o estilo não combina. Sua beleza está exatamente no casamento com o samba hop e com o samba rock.
Ultimamente temos visto, na internet, vários vídeos denominando samba quebrado ao samba funkeado de Jimmy de Oliveira. Isto se deve ao fato de algumas pessoas ainda não conseguirem fazer bem a distinção entre os dois estilos.




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SONHO QUE SE SONHA JUNTO É REALIDADE: algumas reflexões sobre a importância do Fórum de Dança
Por: Zilda Montenegro

Ao longo da minha vida descobri algo interessante, quando pequenos se ajudam, se tornam, cada um deles, grandes. Fortalecem-se e podem se tornar inquebráveis. Isso é quase como um mandamento dos movimentos sociais, e dos movimentos políticos que lutaram e ainda lutam, em alguns lugares, contra a repressão. Ditados populares, palavras de ordem, frases de célebres filósofos dizem sempre a mesma coisa: A união faz a força... O povo, unido, jamais será vencido... e por aí vai. Devemos lembrar que foi isso que nos ajudou a por fim a ditadura no Brasil e nos trouxe de volta à liberdade de pensamento.
Infelizmente, questões de sobrevivência geram concorrência entre os profissionais da dança, pelo menos em nossa região. E, o que poderia se tornar algo grande e favorecer uma população inteira com o acesso a esse serviço acaba estagnando. Minha preocupação maior é com as pessoas que poderiam beneficiar-se com isso, pois considero a dança além de uma arte importantíssima, uma maneira de proporcionar mais qualidade de vida às pessoas que a praticam e em um grau menor, aos seus apreciadores.
O que as pessoas ainda não estão conseguindo enxergar é que esse ditado ou palavra de ordem, ou sabedoria popular, ainda está em vigor. Quando se fortalece um grupo, cada indivíduo ganha com isso.
E onde entra o Fórum de Dança de João Pessoa nessa história?
Em primeiro lugar, ao congregar as várias modalidades de dança existentes na cidade, o Fórum discute problemas comuns a todas elas, mas também coletiviza questões inerentes a uma única modalidade, e busca encontrar soluções para ambas as situações. Com todos tomando conhecimento das necessidades de todos, e reivindicando ações de interesse de todos, principalmente no que diz respeito à divulgação das atividades, promoções de eventos por parte dos órgãos promotores de cultura, ou mesmo conseguindo o apoio cultural por parte desses mesmos órgãos, cada um acaba se fortalecendo individualmente, porque a luta de um, passa a ser também, necessariamente a luta de todos.
Agora, reportando-nos ao que ocorre especificamente na dança de salão, o que acontece? Todos os envolvidos nessa área foram convidados a participar desse fórum, poucos apareceram e, dos que apareceram, poucos foram frequentes à todas as reuniões, como se isso não fosse do seu interesse.
Lamentável, lamentável mesmo.
Enquanto não se abrir os olhos para perceber que mudanças importantes só virão com a mobilização de todos, a dança de salão no nosso estado continuará a crescer muito lentamente. E quando falo nisso, estou me referindo ao crescimento de cada empresa de cada profissional da Dança de Salão na nossa cidade.
Existe sim a concorrência. Ela é saudável. Saudável para nós, alunos e alunas, e saudável para os profissionais.
Mas existe o lado da necessidade de apoio, da conquista de espaços no ambiente cultural da cidade, da realização de eventos, do fortalecimento da profissão.
Agora é o momento de lutarmos por uma formação mais especializada. Já é tempo de mobilização por uma Escola de Dança seja de nível técnico ou superior. Tem que se pensar nos processos de formação dos profissionais da dança, de maneira geral, e da dança de salão especificamente.
"sonho que se sonha só, é só um sonho. Sonho que se sonha junto é realidade".